- Cinema: Critica de Farenheit 9/11
Mas se formos dar uma olhada mais a fundo no filme, veremos que a sua classificação como documentário é mais complexa. Do ponto de vista jornalístico, o filme não pode de maneira alguma ser classificado ou descrito como um documentário. Primeiro porque ele viola toda completamente a questão da imparcialidade da imprensa. O filme é anti-Bush do começo ao fim. Aliás, esta é a principal função do filme, dito pelo próprio diretor, retira-lo da Casa Branca. Outra questão grave é que os fatos citados no filme muitas vezes são falsos ou incompletos fazendo com que o telespectador seja enganado ou complete seu raciocínio de maneira equivocada. Foram inúmeros os jornais que publicaram os fatos como realmente aconteceram.
Farenheit 9/11 é na verdade uma grande propaganda política como uma linguagem “pop” que conquista facilmente as pessoas que querem se sentir mais sábias e inteligentes que as outras. Um verdadeiro prato cheio para aqueles que acreditam em paranóias conspiratórias como fonte real de conhecimento.
O problema na verdade é que o Diretor não segue nenhum padrão ético para que o filme tenha de fato o valor de documento que se propõe. Assim como em Tiros em Columbine, a narrativa de Farenheit 9/11 é cuidadosamente criada para confundir o espectador. Michael Moore primeiro define os seus alvos de ataque, e depois tenta liga-los ideologicamente através de um raciocínio lógico. Quando isso não ocorre, e de fato são muitas às vezes em que isso não ocorre nos dois filmes, ele coloca uma piada para que o espectador se desarme seu censo crítico e absorva o bloco de idéias como um todo. Ali Kamel publicou em suas coluna em 10 de agosto no Jornal O Globo As mentiras de Fahrenheit 9/11. Segue parte da coluna: “Na cena em que Bush passa sete minutos sem nada fazer após o ataque, na escolinha da Flórida, o filme diz que ele ficou lendo um livro chamado “Meu bode de estimação”. Uma graça, mas o livro na verdade se chama “Domínio da leitura 2” (“Meu bode” é apenas um exercício do livro)”. Essa é mais uma mentira ou meia verdade que um leitor mais desatento diria que isso não faz a menor diferença para o conteúdo do filme, mas quando na verdade é fundamental para a aceitação da idéia. A importância sobre “Meu bode de estimação” não está no conteúdo, mas sim na forma. A piada fez todos do cinema rir e consequentemente desarmarem seu espírito crítico.
No que diz respeito a omissão de informação, qualquer documentário que se preze não pode deixar de fora ou citar tão pouco o incidente da tortura dos prisioneiros iraquianos, que é um dos fatos mais importantes na guerra do Iraque. Mas esse fato não foi aprofundado por Moore uma vez que com toda certeza neste caso o Presidente Bush era inocente. Ele se limitou a dizer os soldados agiram de maneira errada porque a guerra começou por motivos errados. Pura balela.
Mas o filme não é de todo ruim. É interessante analisar a própria reação assistindo o filme. O mundo atravessa uma onda anti-americana que muitas das vezes é irracional. Observando a própria reação assistindo o filme ajuda o indivíduo a posiciona-se em reação ao mundo e até rever alguns conceitos criados pelo próprio. Desta forma, o conhecimento que se pode extrair do filme não está contido nas informações deturpadas por Michael Moore, mas dentro de cada indivíduo e só poderão ser analisadas quando adquirimos uma posição crítica em relação a nós mesmos. Como diversão o filme também presta seu papel. Em algumas cenas patéticas como “agora vejam essa tacada” e outras, é impossível não dar um pequeno sorriso.