Excêntrico contido

terça-feira, abril 5

Inteligência e genialidade - Matt Stone

Sempre fui fã do Matt Stone e do Trey Parker. Depois de ler essa entrevista para o jornal O Globo percebi que a genialidade não era a unica coisa presente no criador de South Park. Inteligência e espírito crítico são outras duas características presentes e que dão uma dimensão ainda maior ás obras de Matt Stone. Segue a entrevista publicada no jornal.


Thunderbirds de Bush

Na rodada de entrevistas promocionais de “Team America — Detonando o mundo” em Londres, a primeira surpresa foi descobrir que Matt Stone (criador, ao lado de Trey Parker, da série “South Park”) discorda da legião de gente ligada ao mundo artístico americano de que a presidência de George W. Bush transformou os EUA num antro de censura e opressão de opiniões. O co-criador e diretor de “Team America”, de 33 anos, também refuta as sugestões de que seu filme seja um manifesto político e diz que suas marionetes deixam bem claro o que pensa do ativismo tão alardeado por colegas como Michael Moore. O filme será exibido na sexta-feira no Vivo Open Air, no Jockey Club, e será a única oportunidade de vê-lo em tela grande, já que a sua distribuidora, a UIP, optou por lançá-lo apenas em DVD no Brasil.

Fernando Duarte
Correspondente LONDRES


Como surgiu a idéia de “Team America”?

MATT STONE: Eu e Trey (Parker) estávamos assistindo a uma reprise de episódios de “Thunderbirds” e começamos a comentar como a técnica de animação era muito melhor do que o roteiro das histórias. E aí resolvemos tentar nós mesmos fazermos um filme de marionetes. No início, pensamos em fazer uma versão de marionetes para “O dia depois de amanhã”, mas o estúdio que produziu o filme ameaçou nos processar (risos) . A solução foi buscar um pouco mais de inspiração em “Thunderbirds” e aí fazer um filme de aventura completamente louco, com pitadas de assuntos contemporâneos.

Para um filme que critica o imperialismo americano, a ausência de qualquer menção a Bush é supreendente. Por que vocês pouparam o homem?

STONE: Pelo simples fato de que quisemos deixar “Team America” o mais longe possível do contexto político. O filme é uma expressão das emoções de ser americano e das críticas que temos às atitudes dos meus conterrâneos. Colocar Bush no meio limitaria toda a história, sem falar que o conceito de polícia do mundo já vem sendo usado para alfinetar os EUA bem antes da chegada de Bush à presidência.

O fato de um dos assessores do presidente ter criticado o filme fez você se arrepender de não ter incluído nenhuma farpa mais direta?

STONE: Eu não me incomodei com o que veio da Casa Branca, até porque o tal assessor em questão jamais se identificou. Não vou perder meu tempo respondendo a um burocrata anônimo (risos) .

Tirar sarro de nomes famosos do showbiz americano é algo que você e Parker fazem em “South Park”, mas “Team America” criticou especialmente a turma politizada. Como têm sido as reações de gente como Tim Robbins, Sean Penn & cia?

STONE: Penn foi o único que não teve senso de humor e reclamou, mas a história entre a gente vem da época das eleições do ano passado, quando eu disse que gente desinformada sobre situação do país não deveria se dar ao trabalho de votar. As outras celebridades mostraram mais maturidade. Essa turma tem que saber aceitar uma piada. E alguns dos atores que encontrei, como George Clooney, até confessaram terem gostado do filme.

E Alec Baldwin, que há anos é um de seus alvos preferidos?

STONE: Pelo menos por enquanto, ainda não se manifestou. E queria deixar claro que não criticamos os atores por nenhuma razão que não o fato de eles estarem se metendo a falar de coisas que não entendem. Falar contra a guerra do Iraque é uma coisa, outra são os atores acreditarem que são algo mais além do que profissionais do palco ou das câmeras. Eu não quero ver Sean Penn discutindo o tratado de não-proliferação de armas nucleares na CNN. Eles não têm o direito de abusar da confiança de público e fãs.

Vocês ficaram muito decepcionados com a censura das cenas de sexo entre as marionetes?

STONE: Eu só achei uma perda de tempo, pois o material estará à disposição no DVD. Sem falar que os cinemas americanos não são o que se pode chamar de um primor no controle de entrada de menores. Tudo uma grande farsa.

Talvez um reflexo dos tempos opressivos que os EUA vivem...

STONE: Não concordo nem um pouco com essa teoria de que os americanos estão amordaçados. Eu e Troy há anos colocamos os maiores absurdos em “South Park”, inclusive músicas sobre incesto, e nem por isso fomos presos ou censurados. Meu Deus, se há alguém que fez uma carreira falando o que queria, somos nós. Há uma noção errada fora dos EUA de que voltamos à Idade Média. Tudo bem que houve um certo retrocesso depois daquele episódio com Janet Jackson, mas quem fala em censura hoje em dia está mais é atrás de promoção...

Alguém como Michael Moore?

STONE: Isso. Esse cara fala em opressão e etc, mas vive como um milionário e seus filmes ganham muito mais popularidade quando ele sai gritando na mídia que está sendo perseguido. Moore é um exemplo de gente que precisa entender que uma opinião em contrário não é censura.

Já há planos para uma continuação de “Team America”? O filme termina meio em suspense...

STONE: Preciso de férias. Você não imagina o horror que é trabalhar com marionetes. Em “South Park”, a gente pode num estalo de dedos colocar o Exército chinês inteiro em cena. Com os bonecos, mesmo fazê-los andar pelo cenário já é uma tortura (risos) . A única obrigação que tenho em 2005 é a de cumprir o contrato de 16 episódios de “South Park”. E eu ainda não acredito que o monte de besteiras que a gente falou em “Team America” vá fazer algum sucesso (risos) .