A bomba do boi-bumbá - Diogo Mainardi
Um artigo polêmico publicado dia 09/07/2003.
Em Parintins, Lula ironizou os intelectuais dizendo que eles tinham muito a aprender com a festa do boi-bumbá. Uma semana antes, já havia reclamado que os intelectuais se aposentam aos 53 anos, enquanto os cortadores de cana precisam trabalhar até os 60. Antes de assumir o poder, Lula gostava de se cercar de intelectuais. Agora mudou. Debocha deles.
Dois intelectuais compareceram à festa do boi-bumbá deste ano – Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura. Ambos lulistas, por sinal. Foram convidados pelo guaraná Kuat, o principal patrocinador do evento. Assistiram aos desfiles no camarote do Kuat Clube, trajando camisetas Kuat, e, da mesma forma que as menos intelectualizadas Joana Prado e Samara Filipo, puderam usufruir as comodidades da ilha do Kuat e do iate Kuat. É uma prova de que os intelectuais são bem menos abestalhados do que Lula imagina. Se fossem tão abestalhados assim, pagariam suas viagens do próprio bolso.
Pelo que consegui entender, o boi-bumbá funciona como os desfiles das escolas de samba, só que há apenas dois blocos, Caprichoso e Garantido, e o enredo é sempre o mesmo, ano após ano. Baseia-se numa lenda local. A mulher grávida do negro Francisco deseja comer uma língua de boi. O negro Francisco sacrifica o boi predileto de seu patrão para satisfazer a mulher. O patrão fica contrariado e manda matar o negro Francisco, que foge para o meio do mato e pede ajuda a um pajé. O pajé ressuscita o boi, e tudo termina em festa. Eu gostaria que Lula esclarecesse que ensinamento os intelectuais podem tirar dessa história. O único que eu consigo tirar é que o povo é infinitamente estúpido, mas não creio que o presidente se referisse a isso. Aliás, eu nem sei o que é um intelectual para Lula, se é um catedrático petista da USP ou simplesmente alguém com o ginasial completo.
O fato de os intelectuais se aposentarem aos 53 anos também não me parece escandaloso. Lula, que não é um intelectual nem nada, conseguiu uma barganha ainda melhor, aposentando-se aos 50 anos, com rendimentos especiais. Muito mais justo do que comparar os intelectuais aos cortadores de cana teria sido compará-los aos usineiros. O governo prometeu investimentos de 550 milhões de reais para a estocagem de álcool. Além disso, os usineiros do Nordeste pleiteiam 500 milhões de subsídios, um pouco mais do que embolsaram no ano passado. Os brasileiros plantam cana há 500 anos. Nada mudou de lá para cá. Ainda fazemos queimadas, ainda usamos mão-de-obra escrava, ainda embriagamos os pobres com aguardente de má qualidade, ainda surrupiamos o dinheiro público.
Nos anos 60, quando a economia chinesa começou a afundar, Mao lançou a chamada campanha de reeducação, em que os intelectuais eram ridicularizados em público e mandados para trabalhos forçados no campo. Lula não é Mao. Ele pode achar que existe mais sabedoria no boi-bumbá do que em Aristóteles, mas nunca vai mandar os intelectuais cortar cana. Só vai persegui-los com erros de concordância.
Em Parintins, Lula ironizou os intelectuais dizendo que eles tinham muito a aprender com a festa do boi-bumbá. Uma semana antes, já havia reclamado que os intelectuais se aposentam aos 53 anos, enquanto os cortadores de cana precisam trabalhar até os 60. Antes de assumir o poder, Lula gostava de se cercar de intelectuais. Agora mudou. Debocha deles.
Dois intelectuais compareceram à festa do boi-bumbá deste ano – Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura. Ambos lulistas, por sinal. Foram convidados pelo guaraná Kuat, o principal patrocinador do evento. Assistiram aos desfiles no camarote do Kuat Clube, trajando camisetas Kuat, e, da mesma forma que as menos intelectualizadas Joana Prado e Samara Filipo, puderam usufruir as comodidades da ilha do Kuat e do iate Kuat. É uma prova de que os intelectuais são bem menos abestalhados do que Lula imagina. Se fossem tão abestalhados assim, pagariam suas viagens do próprio bolso.
Pelo que consegui entender, o boi-bumbá funciona como os desfiles das escolas de samba, só que há apenas dois blocos, Caprichoso e Garantido, e o enredo é sempre o mesmo, ano após ano. Baseia-se numa lenda local. A mulher grávida do negro Francisco deseja comer uma língua de boi. O negro Francisco sacrifica o boi predileto de seu patrão para satisfazer a mulher. O patrão fica contrariado e manda matar o negro Francisco, que foge para o meio do mato e pede ajuda a um pajé. O pajé ressuscita o boi, e tudo termina em festa. Eu gostaria que Lula esclarecesse que ensinamento os intelectuais podem tirar dessa história. O único que eu consigo tirar é que o povo é infinitamente estúpido, mas não creio que o presidente se referisse a isso. Aliás, eu nem sei o que é um intelectual para Lula, se é um catedrático petista da USP ou simplesmente alguém com o ginasial completo.
"Eu gostaria que Lula esclarecesse que ensinamentos os intelectuais podem tirardo boi-bumbá. Aliás, nem sei o que é umintelectual para Lula, se é um catedráticopetista da USP ou simplesmente alguémcom o ginasial completo"
O fato de os intelectuais se aposentarem aos 53 anos também não me parece escandaloso. Lula, que não é um intelectual nem nada, conseguiu uma barganha ainda melhor, aposentando-se aos 50 anos, com rendimentos especiais. Muito mais justo do que comparar os intelectuais aos cortadores de cana teria sido compará-los aos usineiros. O governo prometeu investimentos de 550 milhões de reais para a estocagem de álcool. Além disso, os usineiros do Nordeste pleiteiam 500 milhões de subsídios, um pouco mais do que embolsaram no ano passado. Os brasileiros plantam cana há 500 anos. Nada mudou de lá para cá. Ainda fazemos queimadas, ainda usamos mão-de-obra escrava, ainda embriagamos os pobres com aguardente de má qualidade, ainda surrupiamos o dinheiro público.
Nos anos 60, quando a economia chinesa começou a afundar, Mao lançou a chamada campanha de reeducação, em que os intelectuais eram ridicularizados em público e mandados para trabalhos forçados no campo. Lula não é Mao. Ele pode achar que existe mais sabedoria no boi-bumbá do que em Aristóteles, mas nunca vai mandar os intelectuais cortar cana. Só vai persegui-los com erros de concordância.
Diogo Mainardi
3 Comments:
Hahah, gêêênio... =)
By Anônimo, at 10:32 PM
Gui, r ealmente nem todos o sintelectuais tem a aprender sobre o boi-bumbá, mas vc não deve se esquecer que os processos de manifestação cultural popular interessam a muita gente- como por exemplo a mim e sua amiga Bia que seremos futuras antropólogas- e que esse tipo de manisfestação é muito rica para que posssamos entender melhor os homens, seu comportamento e suas necessidades.
Se puder leia Sistemas Políticos da Alta Birmânia e verá que a análise de um sistema político de uma sociedade menos complexa que a nossa, pode ajudar muito para que possamos entender a natureza de diversos outros sistemas políticos.
Aí tvz vc possa começar a entender o boi-bumbá. :)
By Anônimo, at 2:00 AM
Ah, fui eu que escrevi! esqueci de colocar meu nomezinho. E ô correções:
*as manifestações culturais populares.
By Anônimo, at 2:02 AM
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